Podcast de jornalismo e o avanço no Brasil

Podcast de jornalismo e o avanço no Brasil

Em 2019 o Brasil alcançou a posição de segundo maior mercado para podcast no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. A pesquisa divulgada pelo Spotify mostra que o número de ouvintes brasileiros pela plataforma crescia em média 20% ao mês, isso desde o início de 2018. Com a explosão de podcast de jornalismo, a expectativa é de que os números atuais sejam ainda maiores. 

O podcast de jornalismo Café da Manhã, desenvolvido pela Folha de SP e a plataforma de streaming Spotify, despontou como o campeão de audiência na época. Em tempos onde se questiona a credibilidade de veículos de comunicação, os números sobre podcast nos levam a crer que o formato tenha bastante influência sobre os ouvintes.

O Café da Manhã lançado em janeiro de 2019, apresenta as principais notícias do dia e escolhe uma como principal. O programa é diário e com duração de até 30 minutos, com conteúdo comentado por jornalistas e especialistas. Segue os moldes do “The Daily” produzido pelo jornal norte-americano New York Times desde 2017. 

Pesquisa mapeia mercado brasileiro

Anualmente a Associação Brasileira de Podcasters (ABPod) realiza uma pesquisa para mapear o setor de podcasts no Brasil. A mais recente disponível é de 2019/2020 e mostra que o perfil do ouvinte brasileiro de podcast é homem, 28 anos, branco, solteiro e com ensino superior completo. O spotify também é a plataforma preferida dos adeptos. 

Apesar de a presença masculina ainda ser predominante entre os ouvintes, o público feminino cresceu 11% em 2019 na comparação com 2018. A faixa etária predominante fica entre os 20 e 29 anos, consolidando o jovem como principal público. Não por acaso, o tema cultura pop é o de maior preferência entre os que responderam a pesquisa. 

Diversão e informação entre os preferidos

Mas o humor e a ciência aparecem quase empatados na segunda posição. O que demonstra que o público é formado, em sua maioria, por pessoas instruídas, geralmente universitários ou profissionais graduados. Em 2019, a busca por assuntos sobre ciência e feminismo cresceram 9% e 8%, respectivamente. 

O top 20 dos podcasts mais ouvidos incluem programas sobre cultura pop, humor ciência e muito jornalismo. Há opções para todos os gostos, entre entrevistas, contação de histórias, reportagens e storytelling apresentados em áudio. 

Nerdcast, Gugacast, Mamilos, Xadrez Verbal, Anticast, Projetos Humanos, Não Ouvo, Braincast, Matando Robôs Gigantes e Poucas, são os 10 podcasts apontados como os mais ouvidos pela AbPod em 2019.

Mais autonomia para o ouvinte

Os Podcasts permitiram que os usuários passassem a ter total autonomia sobre como, onde e quando se informam. Uma quebra de paradigma na sociedade. Repare, com a televisão ou o rádio é necessário esperar o horário exato do jornal. Sites de notícias exigem um tempo exclusivo para ler ou assistir ao conteúdo. 

Com liberdade para escolher sobre o assunto e ainda fazer outra tarefa enquanto ouve, o ouvinte encontrou novos espaços para se informar. Andar na rua, fazer exercícios físicos ou dirigir foram otimizados por quem é fã de conteúdos em áudio. E talvez esteja aí o motivo de tanta audiência em curto espaço de tempo. 

Pulitzer passa premiar reportagens em áudio

Diante da explosão das reportagens em áudio, o Prêmio Pulitzer oferecido pela Universidade de Columbia e considerado o maior reconhecimento ao jornalismo norte-americano, decidiu premiá-las. Em dezembro de 2019 anunciou a reportagem de áudio como uma nota categoria para premiação a partir de 2020.

A categoria ainda é considerada experimental, pois vai avaliar como caminha a aceitação das reportagens em áudio nos próximos anos. Ainda assim, caracteriza um reconhecimento à capacidade dos jornalistas de contar boas histórias através do áudio.

Podcast é igual a fazer rádio?

Um dos grandes desafios do jornalismo é contar histórias. Com relevância, credibilidade, uma linguagem acessível e que desperte o interesse do público. Com esse conceito que surgiu a ideia de fazer programas jornalísticos em áudio. O podcast de jornalismo apresenta leveza e descontração, mas com informação e sem a pressão da notícia factual.

O formato de sucesso é o que mais se assemelha a um bate papo. Diferente da seriedade das rádios, onde a linguagem é mais formal e informativa. No podcast é como se o ouvinte estivesse participando de uma conversa entre pessoas conhecidas e sobre um assunto que seja de seu interesse. Jornalismo leve e informal. 

Dicas para fazer um bom podcast

Mas será que fazer um podcast de jornalismo é tão fácil quanto escutar? Para ter um programa legal e gostoso de ouvir, exige do jornalista muito planejamento e estratégia. é preciso pensar no tema, com assuntos enxutos e bem explorados,  personagens fortes e fontes que esclareçam sobre o proposto. A fala precisa ser clara e a qualidade do áudio muito boa.

A dica 1 é elaborar um bom roteiro. O roteiro é certamente a alma do negócio. A partir dele é possível definir o tempo de duração do programa e adaptar a linguagem para a considerada ideal. O estilo da fala, as trilhas sonoras e o tema são onde o podcast vai se posicionar, mostrar seus propósitos ao ouvinte. Devem ser sempre bem avaliados. 

O áudio é tudo e essa é a dica 2. Tente escolher entrevistados que falem bem, que consigam desenvolver bem o tema abordado. O ouvinte busca por algo confortável, que consiga ouvir sem dificuldades. Ao gravar as entrevistas, mesmo se não tiver um estúdio adequado, busque fugir de ruídos externos que vão interferir na qualidade do áudio. 

Por último, a dica 3 lembra que o jornalista só tem uma chance de conquistar o ouvinte. Se ele não gostar do que ouve, ou não prender sua atenção, dificilmente voltará a escutar o programa. Por isso que ritmo e fluidez são importantes. O jornalista precisa encontrar o ideal entre o rápido e o lento e ainda dar espaço para que o ouvinte reflita sobre o tema, sem perder o interesse. 

O podcast é um nova forma de fazer jornalismo e reúne muitos recursos para ter um bom alcance. Basta definir estratégias e mãos à obra. 

PL das Fake News amplia obrigações das big techs